O Papa Francisco alerta que o vírus da guerra “é mais difícil de derrotar do que aqueles que atingem o organismo humano”. Na semana em que lembrou que há muitos “mortos, mutilados e feridos no local de trabalho”, o Papa mostrou-se preocupado com as situações na Ucrânia, Perú e Cáucaso, revelou que assinou a sua renúncia em caso de impedimento médico e celebrou 86 anos.
1. Na Mensagem para o 56.º Dia Mundial da Paz, que se assinala no dia 1 de janeiro de 2023, o Papa compara o flagelo da Covid-19 à guerra na Ucrânia, mas, desta vez, “pilotada por opções humanas culpáveis”. Com o tema ‘Ninguém pode salvar-se sozinho. Juntos, recomecemos a partir de Covid-19 para traçar sendas de paz’, a mensagem foi divulgada no passado dia 16 de dezembro e reflete sobre os efeitos da pandemia e o mal-estar geral, que se concentrou no coração de tantas pessoas e famílias, com implicações graves por longos períodos de isolamento e diversas limitações da liberdade, bem como as sérias contradições e desigualdades causadas na ordem social e económica. Mas, “quando já ousávamos esperar que estivesse superado o pior da noite da pandemia, eis que se abateu sobre a humanidade uma nova e terrível desgraça. Assistimos ao aparecimento de outro flagelo – uma nova guerra – comparável, em parte, à Covid-19, mas pilotado por opções humanas culpáveis”, escreve o Papa. A guerra na Ucrânia não só ceifa vítimas inocentes e espalha a incerteza para quantos lá vivem, mas atinge todos de forma generalizada, com efeitos colaterais para o mundo inteiro, “basta pensar nos problemas do trigo e nos preços dos combustíveis”, lembra.
O Papa considera que “não era esta, sem dúvida, a estação pós-Covid que esperávamos”, reconhecendo que “esta guerra, juntamente com todos os outros conflitos espalhados pelo globo, representa uma derrota não apenas para as partes diretamente envolvidas, mas também para a humanidade inteira”. Francisco conclui, no entanto que: “Enquanto para a Covid-19 se encontrou uma vacina, para a guerra ainda não se encontraram soluções adequadas. Com certeza, o vírus da guerra é mais difícil de derrotar do que aqueles que atingem o organismo humano, porque o primeiro não provém de fora, mas do íntimo do coração humano, corrompido pelo pecado”.
Nesta mensagem, Francisco espera que, da experiência da pandemia, os povos e nações voltem “a colocar de novo no centro a palavra «juntos»”, porque “é juntos, na fraternidade e solidariedade, que construímos a paz, garantimos a justiça, superamos os acontecimentos mais dolorosos”.
2. O Papa Francisco manifestou a sua “proximidade ao mundo do trabalho” e partilhou preocupações como a segurança dos trabalhadores e a exploração. “Ainda há muitos mortos, muitos mutilados e feridos no local de trabalho! Cada morte no trabalho é uma derrota para toda a sociedade”, disse o Papa, ao receber em audiência, no dia 19 de dezembro, a Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL). Na Sala Paulo VI, no Vaticano, Francisco referiu que, no final de cada ano, deve-se “lembrar os seus nomes, porque são pessoas e não números”, em vez de contá-los, pedindo que não se permita que “o lucro e a pessoa sejam colocados no mesmo patamar”. “A idolatria do dinheiro tende a pisotear tudo e todos e não preserva as diferenças. É uma questão de treinar para levar a sério a vida dos funcionários e de se educar para levar a sério as normas de segurança: somente uma aliança sábia pode evitar esses ‘acidentes’ que são tragédias para famílias e comunidades”, salientou.
3. No final do Angelus de Domingo, 18 de dezembro, o Papa pediu orações para que a Virgem Maria “toque o coração de todos os que podem parar com a guerra na Ucrânia” e com “o sofrimento daquele povo, especialmente, das crianças, dos idosos e das pessoas imoladas”. “Rezemos também pela paz no Perú, para que cesse a violência no país e que avance pela via do diálogo para superar a crise política e social que aflige a população”, acrescentou.
Sobre a situação no corredor de Lachin, no Cáucaso meridional, Francisco mostrou-se igualmente preocupado “com as precárias condições humanitárias das populações que correm o risco de se agravar durante o inverno” e pediu a todos os envolvidos, que se empenhem em encontrar soluções pacíficas para o bem das pessoas”.
4. O Papa revelou que assinou a sua renúncia em caso de impedimento médico. Numa entrevista ao diário espanhol ABC, Francisco afirmou, a propósito de uma eventual incapacidade por razões de saúde ou acidente, que entregou ao cardeal Tarcisio Bertone, quando ainda era Secretário de Estado do Vaticano, uma declaração assinada com a sua renúncia. “Assinei a minha renúncia e disse-lhe: ‘No caso de impedimento médico, ou o que seja, aqui está a minha renúncia. Já a têm’ Não sei a quem Bertone a deu, mas entreguei-a a ele”. O cardeal Bertone deixou o cargo em 2013 e foi substituído pelo atual Secretário de Estado, o cardeal Pietro Parolin.
A propósito de Bento XVI, Francisco diz que não tenciona rever o estatuto do Papa emérito e revela que visita o antecessor com frequência. “Fico sempre edificado com o seu olhar transparente. Vive em contemplação, tem bom humor, está lúcido, muito vivo, fala baixinho, mas segue a conversa. Admiro a sua inteligência. É um homem grande. Ele é um santo. É um homem de elevada vida espiritual”, disse.
5. O Papa celebrou, no passado dia 17 de dezembro, 86 anos de idade e assinalou-os com três convidados, que receberam das suas mãos o Prémio ‘Madre Teresa de Calcutá’: o padre Hanna Jallouf, franciscano, que vive com os pobres na Síria devastada por uma guerra interminável; Silvano Podrollo, empresário de Verona, que aplica uma parte considerável dos lucros da sua empresa a dar apoio e a socorrer os mais pobres na Índia e em vários países de África e da América Latina; e Gian Piero, mais conhecido por Wué, um sem-abrigo de 75 anos que, todos os dias, põe de lado uma parte das esmolas recolhidas para ajudar pessoas ainda mais pobres do que ele.
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