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Sínodo
“Experiências Sinodais: Sínodo dos Bispos para a África” – parte 1
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As muitas, profundas e rápidas mudanças operadas especialmente no mundo ocidental após a segunda guerra mundial suscitaram em alguns setores da Igreja católica a perceção, e mesmo a convicção, de que também nesta milenar instituição se impunha um processo de mudança, capaz de melhor adaptar a forma da sua presença, o estilo de se relacionar ‘ad intra’ e ‘ad extra’ e o seu modo de agir nos novos tempos.

Essa perceção teve uma admirável expressão na pessoa do Papa João XXIII, ao desejar ardentemente convocar o Concílio Vaticano II, reunindo os Bispos de todo o mundo, contando igualmente com a contribuição de especialistas em diversas áreas (teológicas, humanas e sociais) para, com a iluminação e impulso do Espírito Santo, fazer o “aggiornamento” da Igreja.

As convulsões políticas e sociais em todo o mundo, mormente no Ocidente, provocadas pelas duas guerras mundiais no séc. XX; o surgimento do processo de descolonização, que veio desenhar um novo xadrez geopolítico e económico; a criação de organismos internacionais como centros de decisão de alcance mundial; a definição, sistematização e divulgação dos direitos humanos fundamentais e dos direitos dos povos; o desenvolvimento rápido dos transportes e meios de comunicação, entre outros, tudo isso veio demonstrar a emergência de uma nova ordem mundial, que, por sua vez, requer um novo modo de agir e outras formas de participação a todos os níveis.

Neste contexto, a Igreja, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, olhando para o seu próprio interior, aprofundou o conhecimento da sua índole específica como povo de Deus, tendo como sólido alicerce o batismo, que confere igual dignidade de pertença a todos os fiéis.

A partir da consciência aprofundada de que na Igreja todos os batizados formam uma comunidade, movida pelo Espírito Santo, foi mais intensamente promovida a participação e a corresponsabilidade dos seus membros na dinâmica interna da Igreja, com especial incidência na dimensão missionária enquanto conatural ao discipulado.

Foi neste clima que emergiu de novo o conceito e a vivência de sinodalidade, prática corrente na vida da Igreja já nos primeiros tempos. Na verdade, sendo a Igreja uma comunidade de fiéis, estes devem caminhar juntos, na escuta do Espírito, buscando novos caminhos da missão.

 

Em África, os conceitos básicos fundamentais emanados da Eclesiologia do Vaticano II, o da Igreja, povo de Deus, e o da sinodalidade, apresentam uma pertinência providencial, devido à história e situações político-sociais de muitos dos nossos países.

Na verdade, a história fragmentada dos nossos povos, tradicionalmente divididos em tribos e etnias – Cabo Verde é uma exceção – com o seu rol de memória de conflitos e vinganças, foi ainda agravada com a ocupação colonial levada a cabo por potências rivais entre si, transmitindo tal rivalidade também aos territórios ocupados. Isto, durante séculos. Por estas e outras razões, pode-se depreender as dificuldades que a Igreja em África enfrenta na construção de uma comunidade sinodal, fraterna, solidária, e reconciliada, que tem o fundamento em Jesus Cristo Salvador, o Único capaz de superar quaisquer contingências históricas, étnicas, culturais, políticas e sociais.

 

Após o Concílio Vaticano II, Paulo VI instituiu o Sínodo dos Bispos ao nível da Igreja Universal, retomando a práxis antiga de comparticipação de muitos e diversos, sob a guia do Espírito Santo, na procura do melhor caminho para a Igreja. A partir dessa experiência, a prática de sinodalidade foi também estendida às Igrejas ao nível de continentes, regiões e Dioceses.

E hoje, com o Papa Francisco, a sinodalidade está a tornar-se um processo de caminho habitual da Igreja a todos os níveis, e espera-se que, progressivamente, tal dinâmica entre e se reforce como expressão da realidade e cultura da Igreja de Cristo.

 

†Arlindo Cardeal Gomes Furtado, Bispo

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