Doutrina social |
Ucrânia
O claro não à guerra
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No passado dia 17 de Julho, o Papa renovou as suas críticas à guerra na Ucrânia e, na linha do que desde o seu início vem afirmando, perguntava: “Como é possível não entender que a guerra cria apenas destruição e morte, afastando os povos, matando a verdade e o diálogo”?

 

A insensatez da guerra

Na mesma ocasião apelava ao empenho nas negociações e não no alimentar da insensatez da guerra. Esta nasce não tanto do ímpeto esquizofrénico de um político, mas antes de uma motivação bem estudada com um objetivo final em função do qual se constrói toda uma estratégia. Não é o ímpeto do predador que precisa de sobreviver ou se sente ameaçado; na guerra entra o pensamento, a inteligência, a vontade. Por isso, é indispensável discernir o que está antes e o que se quer depois.

O dia 24 de Fevereiro ficará como um marco de um projeto cujos efeitos estão diante de nós: a morte de milhares de soldados, a morte de numerosos civis incluindo crianças, a destruição de infraestruturas, habitações e bens de toda a sorte e que foram o resultado de muitos anos de trabalho e esforço. Só no que se refere aos deslocados e refugiados, os dados mais recentes da ONU referem 16 milhões de pessoas.

 

Cegueira ou serviço ao diabo

Ao longo da história, os promotores da guerra frequentemente invocam o nome de Deus para justificá-la. É um assunto tratado por especialistas como Karen Armstrong no seu livro “Campos de Sangue” ou como Jonathan Sacks no livro “Não em nome de Deus.” Mas é hoje um tema que interroga muita gente, como é o caso do padre Pluznik, que fala russo e pertence à Igreja Ortodoxa Russa, mas que, perante o que vê acontecer, escreve: “Quando os ouço dizer (os russos) que estão a proteger-nos e não a travar uma guerra santa, eu penso que ou são cegos, ou estão, não a servir a Deus, mas ao Diabo”.

Teria presente a posição do seu Patriarca Cirilo de Moscovo, que dá um conjunto de justificações para a ação militar especial, e que deixa transparecer um enfeudamento ao poder, bem como uma visão fechada sobre o seu pequeno mundo e que considera tudo o que vem de fora como ataque, antipatriótico e até antirreligioso. Essa cegueira não atinge toda a população nem sequer toda a Igreja Ortodoxa. Basta recordar o apelo lançado ao Patriarca por cerca de 300 clérigos para que ele se manifeste contra a guerra fratricida. Sergi Bortnik, conselheiro da Igreja Ortodoxa Russa na Ucrânia, afirmou que “talvez metade das 12.000 paróquias do Patriarcado Russo na Ucrânia disseram que se querem separar agora”.

Também as Igrejas Cristãs fizeram pressão para expulsar Cirilo do Conselho Mundial das Igrejas, o que não aconteceu porque o seu secretário-geral entendeu que esse organismo deve ser uma “plataforma de encontro, diálogo e escuta, mesmo se e quando discordamos”. Realçamos a franqueza do Papa Francisco com o Irmão Cirilo, provavelmente sentindo a repulsa em criticar um irmão com o qual tem procurado a união dos cristãos, e ter de dizer-lhe: “Irmão, nós não somos clérigos do Estado, nem podemos usar a linguagem da política, mas sim a de Jesus”. Pelos vistos, Cirilo identifica-se mais com a maioria de uma população, forçada a viver fechada em si mesma, desinformada do que se passa fora do mundo virtual que lhe é servido pela “verdade” oficial, e onde qualquer expressão de liberdade encontra uma pronta e pesada repressão.

 

Para além da religião, outras razões

Não é isto que explica totalmente a guerra. Sempre me vem à mente o que diz o apóstolo Tiago: “De onde vêm as guerras e as lutas entre vós? Não vêm precisamente das vossas paixões…? Cobiçais, e nada tendes? Então, matais” (Tg 4,1-3). É na cobiça, no desejo de ter e de dominar que está a raiz. O que aconteceria à indústria e ao comércio das armas se não houvesse guerras? Como é que a “inteligência” dos grandes potentados poderia adormecer sem ter descoberto onde há matérias primas a explorar e novas posições estratégicas a defender? E a reconstrução, depois da destruição, não será uma oportunidade para quem só fareja o negócio? O próprio fundamentalismo religioso desenvolve-se com a motivação acrescida de clientelas e de contrapartidas por territórios mais seguros à exploração. São fatores que se cruzam e que potenciam a guerra. A guerra que será sempre um fracasso para a humanidade, um retrocesso no caminho do desenvolvimento, um regresso à lei da selva, uma maldição que nega a felicidade, essa conseguida pelos mansos e construtores da paz.

texto pelo P. Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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