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P. Manuel Barbosa, scj
Caminho sinodal continua

No momento em que traço estas notas, o mundo anda em rebuliço: vastíssimos incêndios a ceifar vidas e a destruir bens essenciais; uma guerra na Ucrânia cada vez mais intensa nos comandos destruidores da Rússia, sem requinte nem poupança de vidas humanas e bens materiais; governos que caem ou mudam nalguns países da Europa; a fome que grassa de modo crescente, provocando inúmeras mortes por faltarem bens primários devido à guerra e a secas, muitas delas provocadas pelas alterações climáticas. A lista poderia continuar…

No que respeita ao nosso contexto eclesial, continua o estudo para apurar a verdade sobre os abusos sexuais de menores e adultos vulneráveis na Igreja, está em fase final o processo sinodal da elaboração da síntese a partir das sínteses provindas da fase diocesana, vai crescendo o entusiasmo com a passagem dos símbolos (cruz e ícone mariano) pelas dioceses, rumo à grande celebração da Jornada Mundial da Juventude em agosto de 2023. Processos a continuar, oxalá que em crescendo…

Em atitude agradecida, é de destacar a doação abnegada e o sincero agradecimento de vidas que ocorrem em particular nestes tempos: ordenações diaconais e sacerdotais nas dioceses e nos institutos religiosos, profissões religiosas (temporárias e perpétuas) de irmãos e irmãs consagradas, jubileus de vida religiosa e sacerdotal, celebrações de batismos, crismas e matrimónios. Histórias de vida ou vidas com história…

Nestes contextos e eventos assinalados, muitos deles em dinamismo sinodal, o processo sinodal em curso, que se insere na compreensão do sínodo como modo de ser da Igreja, continua vivo em toda a Igreja e particularmente na Europa, como pude constatar em recentes reuniões das conferências episcopais europeias em Tirana e em Zagreb.

Considerando a vida consagrada, onde me situo e que poderia estar mais presente nas redes sinodais, gostaria de realçar as palavras que o Papa dirigiu às superiores gerais, em maio passado, sobre o que espera da vida religiosa em relação ao caminho sinodal da Igreja: “Se o Sínodo é sobretudo um momento importante de escuta e discernimento, a contribuição mais importante que podeis oferecer é participar na reflexão e no discernimento, pondo-vos em atitude de escuta do Espírito e abaixando-vos como Jesus para poder encontrar o irmão na sua necessidade. E isto faz-se através das várias mediações previstas neste momento como consagradas, nas paróquias, nas dioceses, enriquecendo a Igreja com os vossos carismas. Ao longo deste processo sinodal, sede construtoras de comunhão, memória da vida e missão de Jesus. De vós espera-se que sejais tecelãs de novas relações para que a Igreja não seja uma comunidade de pessoas anónimas, mas de testemunhas do Ressuscitado, apesar da nossa fragilidade”.

Depois de referir que conta com os religiosos e religiosas para acompanhar o povo santo de Deus no processo sinodal, como especialistas na construção da comunhão, na promoção da escuta e do discernimento e no ministério de acompanhamento, o Papa Francisco conclui: “Conto convosco a fim de que o processo sinodal que vivemos na Igreja também tenha lugar nos vossos institutos, onde jovens e idosas compartilhem a própria sabedoria e visão da vida consagrada; onde todas as culturas se sentem à mesma mesa do Reino; onde as histórias sejam processadas à luz de Jesus Ressuscitado e do seu perdão; onde os leigos possam participar nas vossas espiritualidades”.

O caminho sinodal continua, numa Igreja que por vocação deveria ser fermento na sociedade e em todos os contextos, com realce para os que são de periferia e de descarte. Não cedamos à tentação de retroceder ou de estagnar. Que a escuta do Espírito e uns dos outros continue de modo ativo e criativo, em vista da renovação de toda a Igreja e dos que nela peregrinam como discípulos missionários.

 

P. Manuel Barbosa, scj