Vocações |
Padre Paulo Coelho, Sacerdote do Sagrado Coração de Jesus
A Vocação sacerdotal ao Sagrado Coração de Jesus
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O mês de junho é dedicado ao Sagrado Coração de Jesus; fomos, então, conhecer a vocação sacerdotal do Padre Paulo Coelho, Sacerdote do Sagrado Coração de Jesus (igualmente conhecidos por Dehonianos, decorrente do seu fundador Léon Dehon), Superior e formador do Seminário Nossa Senhora de Fátima, em Alfragide.

 

Deus chamou-me e colocou as pessoas certas no meu caminho

O meu caminho de discernimento vocacional foi progressivo, sinto-me conduzido e acompanhado por Deus durante toda a minha vida. Contudo, houve um momento muito marcante: aos 12 anos tivemos uma visita de um sacerdote missionário Dehoniano na minha escola, em Gandra – Paredes, no Porto. Falou das missões e o que era ser missionário e, na sua apresentação, mostrou um diapositivo muito bonito com uma boneca de sal. Essa boneca, em contacto com o mar, diluía-se, representando a entrega total à imensidão do Amor de Deus. Depois da apresentação deixou um apelo para irmos ao seminário e eu comecei a participar nos encontros do fim-de-semana, o que deixou os meus pais surpreendidos.

Ainda hoje me pergunto que força foi esta que Deus me deu para chegar a casa, com 12 anos, e dizer aos meus pais “Quero ir para o Seminário”, sem imaginar o que daí decorreria. Depois, a minha vocação foi maturando, naturalmente, através da frequência do seminário menor (Portelinha-Porto), seminário médio do 10º ao 12º em Coimbra, o noviciado em Aveiro, os 2 primeiros anos de Teologia em Lisboa e os seguintes 2 anos num estágio em Madagáscar; recebi a ordenação como Diácono e, enfim, Sacerdote. Todo este percurso fui sempre guiado por Deus e por aqueles que Deus colocou no meu caminho, como sejam outros religiosos mais velhos que me acompanharam e ajudaram a viver a adolescência e juventude de uma forma muito plena.

Claro que me questionei sobre os planos de Deus para mim, inclusivamente através de outros colegas, que decidiam de uma outra forma, mas o percurso deles foi o meu percurso: ajudou-me a decifrar melhor o que Deus queria de mim. Numa fase mais avançada, em que iria, como religioso, mudar a minha vida para sempre através dos votos perpétuos, tomei consciência que “Deus me ama muito”. Foi essa certeza, essa garantia, que Deus não me abandona e me acompanha sempre, e que “ser para os outros” me fazia profundamente feliz e realizado.

 

Um sim que se renova diariamente

Olhando de fora, podemos dizer que a visita do missionário Dehoniano foi um mero acaso, mas eu acredito que foi Deus que me escolheu para este modo de ser na Igreja: um missionário que vive neste mundo, tanto em tenras longínquas como na sua própria terra, na perspetiva do Coração de Jesus. Há uma imagem do Coração de Jesus que está na minha infância no quarto dos meus pais, e que só muito mais tarde me dou conta dela, com outra consciência: Deus foi-me guardando e orientando neste caminho sem que eu me tenha dado conta.

Há perguntas às quais não consigo responder na sua totalidade, mas também acredito que a dimensão vocacional é uma questão sempre aberta no sentido que tem de ser vivida diariamente. Temos de pedir a graça da vocação e a graça da perseverança na vocação, como dizia São Francisco de Sales. A pergunta “Por que é que Deus me chamou, por que é que Ele me quer aqui?” continua a ser uma pergunta, para mim. É um diálogo constante, um “sim” que se renova.

 

Ser do Sagrado Coração de Jesus

Todas as vocações são belas pois são dons do mesmo Dom, o Espírito Santo, mas eu só me vejo como Dehoniano, ainda que, ao longo da vivência, haja uma maturidade que vamos adquirindo. Ser sacerdote Dehoniano é ser memória de Deus que nos ama, que nos chama e nos transforma; alguém que acolhe os outros, tal como eles são, à semelhança de Jesus.

A devoção ao Coração de Jesus teve como força impulsionadora S. João Eudes, no século XVII, e, particularmente, Santa Margarida Maria de Alacoque através das suas visões relativas à manifestação do Coração de Jesus, que se iniciaram a 27 de dezembro de 1673. É o reconhecimento que Deus, e o Seu Filho Jesus Cristo, ama de tal forma os homens que Se oferece inteiramente, ou seja, é uma devoção olhada a partir do Mistério Redentor, com a Sua Paixão. Com Santa Faustina, há uma outra ótica do mesmo Mistério, como manifestação do Ressuscitado e da Sua Misericórdia, relevando a eficácia salvífica de Cristo no tempo. O Mistério da Redenção e da Ressurreição é único, pois Cristo é um só. Aliás, recorrendo ao Evangelho de S. João, vemos as duas óticas, a confluir no mesmo instante pois o momento da Cruz coincide com o momento da Glória.

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é máxima expressão humana do Amor Divino, que continua a mostrar a sua eficácia sobre as nossas vidas. Neste sentido, a prática das primeiras sextas-feiras durante 9 meses é fazer memória que este Amor se realiza diariamente na vida dos crentes. O nosso fundador, Padre Léon Dehon viveu num país, a França, muito marcado pela Devoção ao Coração de Jesus, e recebe esta influência desde a sua infância, pela parte de sua mãe. Nós reconhecemos naquela experiência de fé do Padre Dehon, o amor ao Coração de Jesus, a nossa forma de participarmos na Igreja.

 

Jesus e Maria – um só Coração

Nós, Dehonianos, vivemos a íntima união do Coração de Jesus ao Coração de Maria recorrendo a duas expressões bíblicas: uma de Nossa Senhora – Ecce ancilla, ou seja, “Eis a serva” – e outra do Filho de Deus – Ecce venio, ou seja, “Eis que venho”. O que está no Coração da nossa Mãe do Céu e de Nosso Senhor é a oferta total; por isso esta devoção ao Coração de Jesus ajuda-nos a ir ao encontro da motivação mais profunda do nosso ser, que vemos em Maria e no Verbo de Deus desde o início: um “Sim” generoso, total. Contemplando estes dois Corações vemos um ato generoso muito profundo, de entrega, de abandono. É isso que nos carateriza e se manifesta nas virtudes da disponibilidade e generosidade.

 

O que te fez acender o coração?

Antes de entramos nas regras do processo de discernimento, há uma grande atração por aquilo que nos leva a deixar tudo e a segui-l’O, um “amor primeiro”, aquilo que te atrai; porque o Amor atrai. Por isso, no âmbito de um processo de discernimento vocacional, a pergunta prévia é “O que te fez acender o coração?”. Há um grande teólogo, Hans Urs von Balthasar, que dizia que “é a Beleza que nos converte”, aquele momento inicial de encontro em que alguém nos chama e nos atrai, pelo seu testemunho, pela sua beleza.

 

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O SAV congratula-se com a dom da vocação da Irmã Maria do Carmo do Sagrado Coração de Jesus que, no dia 10 de Junho, na Basílica da Estrela, fez a sua Profissão Religiosa Temporária de Votos Simples na Ordem das Irmãs Pobres de Santa Clara de Assis, dando os parabéns a toda a Comunidade das Clarissas na pessoa da sua Superiora, Madre Maria José Reis.

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