Artigos |
P. Manuel Barbosa, scj
Dez verbos sinodais

Estamos a terminar a fase diocesana do processo sinodal, com a apresentação da respetiva síntese. Mas continuamos em sínodo, pois este é um processo permanente a marcar a natureza da Igreja.

Nesse sentido, pareceu-me interessante partilhar convosco, resumidamente e em forma de comentário, um artigo do cardeal Aquilino Bocos Merino na revista “Vida Religiosa”. Recorda-nos que os “discípulos do caminho” que é Jesus assumem a sinodalidade como modo de viver e agir do Povo de Deus sob a ação do Espírito e não como mera organização de reuniões internas da Igreja. Para concretizar esta perspetiva, o cardeal claretiano sugere dez verbos que devem ser conjugados na primeira pessoa do plural: “nós”, a incluir bispos, sacerdotes, consagrados e leigos.

Conviver. Vivemos a conviver, responsáveis uns dos outros. A participação e a corresponsabilidade são forças motoras da sinodalidade. “Cuidemos para que ninguém sofra a solidão e a marginalização!”

Agradecer. A sinodalidade concretiza-se na gratidão a Deus e a quantos caminham connosco; um agradecer que mantém alegre o fluir da vida. “A Igreja é uma grande comunidade de agraciados e agradecidos”.

Amar. Sem caridade e sem amor fraterno, não há sinodalidade. A alma da Igreja está na caridade, no amor que nasce do coração trespassado de Cristo. “Não podemos deixar de nos amar”, amar é decisivo.

Incluir e integrar. “O amor, longe de excluir e marginalizar, é força inclusiva e integradora”. Caminhar juntos implica assumir estes dinamismos na sua intrínseca e concreta interligação. Cada um, na riqueza das suas diferenças, faz parte do processo sinodal; ninguém pode ser colocado ou colocar-se de fora desse processo.

Escutar. Verbo essencial do sínodo. “Escutar a Deus, escutar os irmãos e irmãs, escutar a natureza e os acontecimentos”. Caminhar despertos com ouvido atento, partilhar pontos de vista, procurar juntos a verdade e a beleza, limar diferenças… Na escuta do Espírito e na escuta recíproca, aprendemos, melhoramos, construímos.

Confessar. Confessar a fé como testemunho de filhos de Deus, irmãos em Cristo, enviados pelo Espírito Santo. Confissão que nos “impele a sair de nós mesmos, nos torna livres e disponíveis para apregoar o Evangelho em toda a parte e partilhar a vida com quem precisa da nossa ajuda”.

Rezar juntos. “A sinodalidade mantém-se viva e cresce na oração sem cessar”. Rezar o Pai Nosso como Jesus nos ensinou: uma oração de adoração, de olhar à nossa volta, de acolhimento de todos sem exceção, uma oração que “desperta humildade, estreita vínculos, mantém viva a esperança e aumenta a perseverança diante das dificuldades no caminhar”. Com a preciosa presença de Maria, que cuida dos seus filhos, “discípulos do caminho”.

Perdoar. Pedir perdão e perdoar-nos, com humildade e generosidade. “Este exercício de reconciliação é inerente à sinodalidade”, faz crescer em nós a liberdade e o bem-estar. Quem resiste ao perdão não faz caminho, é escravo dos seus ressentimentos e desavenças.

Ajudar-nos. O caminho traz cansaços, tropeços, quedas, abandonos, desgostos, oposições… O auxílio do Senhor é essencial, mas precisamos também da ajuda uns dos outros. “Caminhar juntos adquire validez e autenticidade na proximidade e na solidariedade. Sendo verdadeiros samaritanos”.

Comprometer-nos. O nosso compromisso exerce-se livremente pela verdade, justiça e paz. “Não andamos a caminhar por inércia, empurrados, obrigados”. No caminho procuramos realizar as bem-aventuranças e as obras de misericórdia.

Eis dez verbos para o processo sinodal que é permanente, a conjugar sempre na primeira pessoa do plural, sob a escuta constante do Espírito. Como fez, aliás, a comunidade primitiva no primeiro evento do processo sinodal, o Concílio de Jerusalém, que assim conclui: “o Espírito Santo e nós decidimos…”.

Continuemos em sínodo, pois só assim seremos autênticos “discípulos do caminho”, para que a Igreja seja renovada na sua fidelidade a Jesus Cristo!

 

P. Manuel Barbosa, scj