Lisboa |
Nos 30 anos da Escola Diocesana de Música Sacra de Lisboa
“Contribuir para que a liturgia seja realmente bela e digna”
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O diretor da Escola Diocesana de Música Sacra (EDMS) de Lisboa tem um sonho: “Sermos uma instituição de referência na formação litúrgica de música sacra”. O padre Diamantino Faustino lembra a história desta instância formativa do Patriarcado – que em 2022 completa 30 anos da fundação –, sublinha que “todos os intervenientes na música sacra precisam de formação” e destaca “o serviço” prestado às paróquias.

 

“O nosso sonho é sermos realmente uma instituição de referência na formação litúrgica de música sacra. Gostaríamos que todos os diocesanos pudessem dizer: ‘Ah, nós temos uma Escola Diocesana de Música Sacra! Eu gostava de cantar como eles cantam’. O nosso objetivo é sermos um modelo para a diocese, sermos conhecidos na nossa diocese, para que a liturgia seja realmente bela e digna”. É este o sonho que o diretor da Escola Diocesana de Música Sacra de Lisboa deixa ‘escapar’ ao Jornal VOZ DA VERDADE.

O padre Diamantino Faustino, de 49 anos, é oficialmente diretor da EDMS desde 30 de setembro de 2021, mas colabora com a instituição, enquanto subdiretor, há vários anos, e sublinha que “o Concílio Vaticano II recomendou que as dioceses implementassem e estabelecessem” estas instâncias de formação. “As escolas de música sacra e as comissões de música sacra foram largamente recomendadas pelo Concílio Vaticano II, tendo em conta a reforma litúrgica e o desejo da reforma litúrgica, mas também o desejo de formação, seja na parte dos seminários – incluir nos seminários a formação musical adequada aos futuros sacerdotes, para poderem cantar –, seja depois a formação dos ministros da liturgia: os cantores – quer os salmistas, quer os coralistas, quer também os diretores de coro – e os organistas. Todos estes intervenientes na música sacra precisam de formação”, destaca.

No Patriarcado de Lisboa, a “primeira versão, digamos assim”, da Escola Diocesana de Música Sacra foi fundada pelo padre Teodoro Sousa, com o Cardeal D. António Ribeiro, em 1992. “Depois foi interrompida, durante pouco tempo, e retomou já após o ano 2000, neste formato atual”, conta. Ao longo destes 30 anos, a EDMS esteve em vários lugares, como a Basílica da Estrela e a Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Entretanto, a paróquia de Linda-a-Velha tem “esta especificidade” de ter uma escola de música, “que fez 40 anos há pouco tempo”, e que “tem dimensões muito grandes, quer a nível de tamanho – são quase 800 alunos –, quer a nível pedagógico – é uma das escolas que, no ranking, está sempre no primeiro ou segundo lugar”. “Como teve sempre muita colaboração com a Câmara Municipal de Oeiras, este edifício, que foi feito de raiz para ser uma escola de música, tem todas as condições de qualidade e de capacidade para uma escola de música. É uma escola que pertence à paróquia, e vimos que seria muito útil encontrar sinergias com a escola diocesana”, destaca. Algo que aconteceu em janeiro de 2015, aquando da chegada do padre Diamantino a Linda-a-Velha, ocorrida uns meses antes.

 

Curso de Música Sacra

A Escola Diocesana de Música Sacra e a Escola de Música Nossa Senhora do Cabo estabeleceram, então, um “protocolo de cooperação” para “promoverem um Curso de Música Sacra”, na Diocese de Lisboa. “O Curso de Música Sacra está ao serviço das paróquias, das comunidades, dos ministros da liturgia”, garante o padre Diamantino. “Os cursos que temos, por um lado, são uma resposta ao que as pessoas nos vêm pedir, e, por outro lado, nós queremos manter aquilo que gostaríamos de oferecer às paróquias. Os paroquianos, por vezes, vêm-nos pedir algo dentro dos seus limites, seja de capacidade de aprendizagem, seja de tempo, seja financeiro, e temos o chamado Curso Livre, com as várias vertentes de canto e órgão. Mas depois temos o chamado Curso Académico, que é o que gostaríamos que as pessoas aprendessem e que os nossos ministros da música sacra aprendessem. É um curso que está estruturado em vários níveis: três níveis para o curso de canto, e cinco níveis para o curso de órgão – porque inclui o curso de canto, que nós também chamamos Curso Geral, e que é o conjunto de disciplinas que qualquer músico precisa de ter, quer da formação musical, quer da teoria musical, quer da formação litúrgica e história da música sacra”, explica o diretor, sublinhando ainda que “este Curso Geral antecede os dois anos dos cursos de organista e de diretor de coro”.

A EDMS tem também “o desejo” de poder estar “ao serviço de outros músicos”. “Alguém que tirou o Curso Superior de Órgão na Escola Superior de Música de Lisboa e teve toda a formação musical, mas que não tem formação litúrgica, e vai começar a acompanhar o órgão na sua igreja, tem necessidade de aprofundar o conhecimento de liturgia. Então, a nossa disciplina de Liturgia é oferecida para que o músico possa ter uma formação estruturada de liturgia e, eventualmente, até de História da Música Sacra”, aponta.

 

Paróquias e pólos

Na relação com as paróquias, a EDMS tem procurado “dar a conhecer” o seu trabalho. “Temos a Jornada Coral de Música Sacra, que vamos fazer às vigararias. Procuramos ter proximidade com as paróquias, através da nossa iniciativa, conforme as vigararias nos pedem. Houve anos em que tivemos cinco jornadas, neste ano pastoral já houve duas, em Óbidos e em Arruda dos Vinhos, mas claro que com a pandemia esteve tudo cancelado”, reconhece.

A “novidade” deste ano pastoral são os dois pólos que foram criados precisamente nas paróquias que receberam a Jornada Coral. “Os pólos de Óbidos e de Arruda dos Vinhos estão numa fase experimental. Temos a boa vontade dos párocos e não queremos defraudar, queremos ir ao encontro das expectativas e oferecer recursos que as paróquias precisam para cumprirem a sua função musical. No fundo, são locais onde há versões mais reduzidas dos nossos cursos”, esclarece o diretor da escola diocesana.

É desejo da EDMS criar novos pólos pela diocese? “Sim, mas isso é em função dos pedidos dos párocos e da vontade das pessoas”, responde este responsável. “Já percebemos que quando a vontade nasce, nós estamos cá e temos todas as ferramentas, temos os professores, temos a competência pedagógica e técnica”, acrescenta o padre Diamantino.

 

Música nas JMJ’s

Neste ano pastoral 2021-22, a Escola Diocesana de Música Sacra tem promovido, pela primeira vez, diversos Seminários Temáticos sobre Repertório Litúrgico. “Tivemos um sobre o padre Manuel Luís, outro sobre o padre Manuel Simões e um terceiro acerca do padre Manuel Faria. São iniciativas que nunca tínhamos tido”, refere o diretor. O último seminário temático, em cinco sessões online nos dias 25 de maio e 1, 8, 15 e 18 de junho, vai ter como tema ‘A Música das Jornadas Mundiais da Juventude’. “Tenho estado a rever as Missas de encerramento das várias Jornadas e vemos que o órgão tem sempre lugar e tem cada vez mais lugar na evolução das Jornadas. É sempre interessante. Ainda na última [Panamá 2019], continua a haver toda a dimensão da canção festiva, do sacro pop que vai aparecendo, mas também muitas partes da Missa da JMJ aparecem apenas com o órgão e o coro. Portanto, há toda esta versatilidade entre a orquestra, o órgão, os instrumentos do folclore de cada país que são integrados na Jornada, mas o órgão tem sempre lugar, sobretudo quando é aquela parte do Ordinário da Missa. Quando é preciso alguma melodia, ou algum cântico, com uma interioridade mais desejada, recorre-se ao órgão e à polifonia”, destaca o diretor da Escola Diocesana de Música Sacra de Lisboa.

 

Escola Diocesana de Música Sacra

Site: www.edms-lisboa.pt

Email: edmslisboa@gmail.com

Telefone: 214146610

Facebook: www.facebook.com/EDMSLx

 

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“Órgão é o instrumento por excelência da liturgia”

O diretor da Escola Diocesana de Música Sacra de Lisboa acredita que “o órgão não tem perdido espaço nas celebrações”. “Pelo contrário! A reforma litúrgica ainda está em curso, a pouco e pouco, e 50 anos depois do Concílio penso que as comunidades já vão tendo bastante mais consciência do órgão e da necessidade da própria música litúrgica ganhar a sua identidade própria – não é que as outras músicas sejam excluídas, as canções-mensagem ou os cânticos de Taizé, porque tudo isso tem a sua linguagem e tem o seu lugar, mas penso que as comunidades vão tendo algum cansaço de um certo estilo do chamado sacro pop. Por outro lado, a formação litúrgica também vai acontecendo, o que tem levado a uma maior consciência da especificidade da linguagem da música litúrgica e da música sacra, que vamos descobrindo e vamos aprendendo a saborear, a viver e a celebrar. Nesse aspeto, o órgão vai ganhando cada vez mais lugar”, considera o padre Diamantino Faustino. “Também os nossos alunos, que durante alguns anos eram só pessoas mais velhas, agora não. Temos cada vez mais alunos jovens, gente que está nas paróquias”, salienta.

Este responsável socorre-se ainda dos documentos oficiais da Igreja para destacar a importância do órgão nas celebrações. “Curiosamente, o órgão é o único instrumento que é referido explicitamente e promovido nos documentos oficiais da Igreja, dizendo que é o instrumento por excelência da liturgia. Depois, nesses documentos, o que costuma aparecer é: ‘Também se admitem outros instrumentos, desde que respeitem o carácter da liturgia, o espírito da liturgia e desde que se adequem à nobreza e à dignidade do ato litúrgico’. Portanto, os outros instrumentos cabem todos nesta categoria dos restantes instrumentos”, frisa, sublinhando ainda que o órgão é “o único instrumento que tem recomendações na própria Instrução Geral do Missal Romano”.

Além disso, acrescenta este sacerdote, “historicamente, o órgão nasceu nas igrejas”. “Se calhar, é o único instrumento que nasceu de raiz na igreja. Todos os outros nasceram fora e depois são usados também na liturgia, mas o órgão nasceu de raiz na igreja. Qual é a caixa acústica do órgão? É a igreja! Se pusermos um órgão na rua, não se vai ouvir. A ressonância é o próprio edifício da igreja, o próprio espaço litúrgico. Isso, já de si, nos recorda o lugar que o órgão tem. Por isso, à partida, é o instrumento mais adequado para as celebrações, porque foi feito para uma função litúrgica implícita”, termina o diretor da EDMS.

 

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“Atelier mostrou alunos muito interessados”

A Escola Diocesana de Música Sacra organizou, no passado dia 30 de abril, o ‘Atelier de Improvisação e Interpretação ao Órgão’, que teve como orientador o organista António Esteireiro. “Este atelier destinava-se a organistas e era especificamente para harmonização e improvisação, que é um aspeto muito específico e muito necessário na liturgia. Qualquer organista na liturgia vai ter momentos em que precisa de improvisar – alguma introdução, algum canto – e precisa também de harmonizar – uma vez que, na liturgia, por vezes temos uma melodia simples e é necessário o organista acompanhar, completando a harmonia. Tivemos 12 alunos no atelier e o balanço é muito positivo. Os alunos estiveram muito interessados – a formação era para acabar às 17h00 e acabou às 19h00!”, refere o diretor da EDMS, padre Diamantino Faustino.

No dia 21 de maio, vai ser promovido o ‘Atelier de Direção Coral’. “Vamos ter outra formação, desta vez para os diretores de coros, estamos a receber as inscrições e certamente que vai correr muito bem”, deseja este responsável.

 

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Gratidão ao padre Teodoro

O padre Teodoro Sousa é o fundador da Escola Diocesana de Música Sacra de Lisboa e o atual diretor deixa, através do Jornal VOZ DA VERDADE, uma mensagem de agradecimento ao antecessor. “O padre Teodoro deu toda a sua vida e todo o seu empenho para que esta escola pudesse acontecer, no meio das dificuldades iniciais. Além do empenho na escola diocesana, esteve ligado à parte da composição litúrgica e, portanto, temos muitos cânticos, que hoje são cantados, que foram compostos por ele. É a pessoa a quem devemos esta escola diocesana, com a inspiração que ele quis implementar para toda a diocese”, salienta o padre Diamantino Faustino.

texto por Diogo Paiva Brandão; fotos por Diogo Paiva Brandão e EDMS de Lisboa
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