Há precisamente um ano, na madrugada de 25 de Abril, Christian Carlassare foi alvejado a tiro nas pernas. A notícia correu mundo. Ele iria ser ordenado Bispo de Rumbek, no Sudão do Sul, dali a um mês. Seria preciso esperar quase um ano para que uma das dioceses mais pobres de um dos mais pobres países do mundo tivesse finalmente o seu bispo.
Não é fácil a missão que espera D. Christian Carlassare. Para este missionário comboniano, de 44 anos, o importante é ajudar o seu povo a fazer o caminho da paz. O Sudão do Sul é o mais jovem país do mundo, mas a sua curta história parece contagiada pelos piores vícios da humanidade. A bandeira do país foi hasteada pela primeira vez em Julho de 2011. Menos de dois anos e meio depois desse dia de festa escutaram-se os primeiros tiros, tombaram as primeiras vítimas de uma guerra civil com contornos étnicos. Na base do conflito esteve a acusação de que o então vice-presidente Riek Machar estava a preparar um golpe de Estado para depor o presidente Salva Kiir. Na verdade, ambos representam as duas principais etnias do país: os Nuer e os Dinka. A guerra civil tem sido feia, suja, brutal. A violência no Sudão do Sul tem sobrevivido até agora a praticamente todas as tentativas de acordos de paz. Massacres étnicos, assassinatos brutais, violência sexual, recrutamento de crianças-soldado… o que de pior tem a guerra acontece por ali. Quatrocentos mil mortos, quase quatro milhões de refugiados e deslocados. Estes números traduzem uma tragédia que parece escondida aos olhos do mundo e mostram que não é fácil, nada fácil, a missão do jovem missionário italiano à frente dos destinos da Diocese de Rumbek. “A população sofre devido aos conflitos, à instabilidade, à pobreza endémica e à falta de serviços. A Igreja sofre das mesmas feridas que a população, como a pobreza e as cicatrizes da violência”, diz D. Carlassare em entrevista à Fundação AIS.
Curar feridas
O próprio atentado de que foi vítima, que o atirou para uma cama de hospital durante vários meses, mostra que a paz no Sudão do Sul tem um preço elevado e significa um longo caminho que tem de ser percorrido com humildade por todos. “Estive em muitas situações perigosas no Sudão do Sul, mas nunca me senti em perigo, porque estava protegido pelo povo. Mas naquele dia [na madrugada de 25 para 26 de Abril de 2021], deparei-me com dois jovens que me apontavam armas e sem ter para onde fugir. Eles dispararam contra mim, mas felizmente o Senhor guiou as balas e eu não fiquei muito ferido. Atingiram os músculos das minhas pernas, mas falharam as áreas vitais. Este foi um momento de graça, porque me deu a humildade de ser como o povo, carregando as mesmas feridas que o povo”, descreveu o prelado em entrevista ao programa de televisão da Fundação AIS de Espanha. Para D. Christian Carlassare é preciso perceber o sentido das coisas. E até no atentado de que foi vítima é possível tirar ensinamentos. “Eu interpreto isto como um sinal para me recompor e mostrar que também eles podem voltar a pôr-se de pé, apesar das feridas causadas por um conflito interminável, apesar da presença de tantas armas, tantos territórios ocupados por milícias e pessoas deslocadas. Quando confrontados com este desespero, temos de dar esperança de que as suas feridas podem ser curadas, que podemos voltar a pôr-nos de pé e caminhar pelo caminho da paz”, afirmou o prelado.
Amor por África
O futuro é incerto no Sudão do Sul. Se olharmos apenas para o seu passado mais recente, houve mais tempo em conflitos e guerras do que em paz. A crise humanitária é brutal. Os números, na sua frieza, dizem tudo. O Sudão do Sul é um dos países mais pobres do mundo. Mas não está tudo perdido O presidente Salva Kiir e o seu rival Riek Machar encontraram-se no Domingo, 3 de Abril, e apertaram as mãos. Esse gesto fez renascer as esperanças numa paz que tarda, de uma concórdia que o Sudão do Sul nunca conheceu desde que ganhou a sua emancipação como país, vai fazer 11 anos no próximo dia 9 de julho. O aperto de mão entre os dois homens é um sinal também positivo para a visita do Santo Padre, agendada para os dias 5 a 7 de Julho, quase um prelúdio para os festejos da independência. Para D. Christian Carlassare é preciso que o mundo olhe para África e consiga ver como é urgente a cooperação com os países mais pobres, para que o desenvolvimento ajude a combater as desigualdades que são fonte de discórdia e de violência. “Mantenhamo-nos unidos no amor que temos por este continente, por África, que certamente tem grandes dons para dar ao mundo, e a uma Europa envelhecida e necessitada do vigor e da vida juvenil que África pode proporcionar”, disse o Bispo de Rumbek à Fundação AIS. Não é fácil a missão que espera D. Christian Carlassare. Para este missionário comboniano, o importante mesmo é ajudar o seu povo a fazer o caminho da paz. E ele conta com a nossa ajuda…
Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]
|
Guilherme d'Oliveira Martins
Há anos, Umberto Eco perguntava: o que faria Tomás de Aquino se vivesse nos dias de hoje? Aperceber-se-ia...
ver [+]
|
Pedro Vaz Patto
Já lá vai o tempo em que por muitos cantos das nossas cidades e vilas se viam bandeiras azuis e amarelas...
ver [+]
|
Guilherme d'Oliveira Martins
Vivemos um tempo de grande angústia e incerteza. As guerras multiplicam-se e os sinais de intolerância são cada vez mais evidentes.
ver [+]
|