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P. Manuel Barbosa, scj
Corajosos como São José

A agenda atual está marcada pela bárbara guerra na Ucrânia com a invasão da Rússia a provocar inúmeras mortes, massivas destruições e milhões de refugiados, pelo processo sinodal em fase diocesana, pelo itinerário quaresmal rumo à Páscoa.

Neste contexto, não esqueçamos São José, com quem vivemos um ano jubilar, que continua a inspirar-nos e a interceder por nós, especialmente neste mês em que celebramos a sua intensa presença nas nossas vidas e comunidades, na Igreja e no mundo.

Ao longo de três meses (de 17 de novembro a 16 de fevereiro), o Papa Francisco ofertou-nos doze belíssimas catequeses nas quais, além de evocar o ambiente em que viveu José, muito semelhante ao de hoje, e a sua relevância na história da salvação, provoca a renovação das nossas vidas à luz de dez traços da vida de José: homem justo e esposo de Maria; homem do silêncio: migrante perseguido e corajoso; pai putativo de Jesus; carpinteiro; pai na ternura; homem que “sonha”; homem na comunhão dos santos; padroeiro da boa morte; padroeiro da Igreja universal.

Pela sua acutilância e extrema atualidade, gostaria de relevar aqui a catequese que refere José como migrante perseguido e corajoso. De notar que o Papa partilha esta reflexão dois meses antes de rebentar a criminosa e repugnante invasão da Ucrânia pela Rússia, com a sangrenta guerra que infelizmente continua.

«A família de Nazaré sofreu humilhação da fuga para o Egito e experimentou em primeira pessoa a precariedade, o medo e a dor de ter que deixar a sua terra. Ainda hoje muitos dos nossos irmãos e irmãs são obrigados a viver a mesma injustiça e sofrimento. A causa é quase sempre a prepotência e a violência dos poderosos. Isto aconteceu também com Jesus».

Uma fuga que salva Jesus, mas que não impede que o cruel e feroz ditador Herodes aplique a receita de eliminar pessoas, sobretudo crianças, exercendo o poder com total despotismo e extrema violência desumana. Como diz o Papa, Herodes «é o símbolo de muitos tiranos de ontem e de hoje». Não deixa de nos provocar ainda, ao referir que «também nós temos no coração a possibilidade de ser pequenos Herodes».

José, migrante perseguido e refugiado, homem justo e corajoso, é o oposto de Herodes. «Podemos imaginar as peripécias que teve de enfrentar durante a longa e perigosa viagem, e as dificuldades que enfrentou durante a permanência num país estrangeiro, com outra língua: inúmeras dificuldades! A sua coragem sobressai também na hora do regresso quando, tranquilizado pelo Anjo, supera os seus compreensíveis receios, estabelecendo-se com Maria e Jesus em Nazaré».

A coragem de São José perante tamanhas adversidades pode fortalecer a nossa coragem, atingidos hoje por esta situação que procura destruir a vida e a paz, também no quotidiano das nossas existências. «A vida apresenta-nos sempre adversidades, perante as quais podemos sentir-nos também ameaçados, amedrontados, mas não é mostrando o pior de nós, como faz Herodes, que podemos superar certos momentos, mas agindo como José, que reage ao medo com a coragem da confiança na Providência de Deus».

A coragem de São José fortalece a nossa oração e o nosso pensamento «em tantas pessoas vítimas das guerras, que querem fugir da sua pátria e não conseguem; nos migrantes que empreendem este caminho para ser livres e muitos morrem ao longo da estrada ou no mar; em Jesus nos braços de José e Maria, em fuga, vendo n’Ele cada um dos migrantes de hoje. A migração de hoje é uma realidade diante da qual não podemos fechar os olhos. É um escândalo social da humanidade!».

Que São José ampare todos os que fogem da guerra, ajudando-os nas suas dificuldades e fortalecendo-os na esperança, e abra o nosso coração à solidariedade e ao acolhimento dos refugiados que nos batem à porta, sobretudo mulheres e crianças, a exemplo de São José para com Jesus e Maria.