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Exortação Apostólica ‘Amoris Laetitia’ - Capítulo V
O amor que se torna fecundo
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«No início o verbo era Deus e encarnou no meio de nós» (Jo 1, 1). Este acontecimento disruptor, que num momento se encontra encerrado junto de Deus, e no momento seguinte, com a sucessão de acontecimentos, tão numerosos quanto belos, envolvendo um povo imenso, de onde Deus realiza uma eleição criteriosa, em vista de um benefício em nosso favor – o acesso ao conhecimento do Seu amor, e às suas complementares dimensões no âmbito da fecundidade – é a razão de nos ser permitido meditar sobre esta encíclica do Papa.

Acreditamos que o plano salvífico de Deus se realiza hoje, atualizando esta eleição, desta vez mexendo com a nossa família: “os cônjuges, enquanto se doam entre si, doam para além de si mesmos a realidade do filho, reflexo vivo do seu amor, sinal permanente da unidade conjugal e síntese viva e indissociável do ser pai e mãe.”

Pelo vínculo do matrimónio (n.190), formámos uma família em 2003, que conta hoje com 7 filhos, o último dos quais goza das delícias eternas já no céu. Uma família que não foi erigida pelas nossas forças. Dizemo-lo, pois a Igreja ajuda-nos a reconhecer os numerosos memoriais que tornam presente a nossa fragilidade, estimulando-nos a ser o novo Israel – fortes com Deus –, e pelos quais em tempo algum nos sentiremos tão valentes ou dotados de levar por diante uma obra que é superior às nossas forças. O nosso lar procede de um desígnio divino, manifestado pela força do Seu amor, dispondo-nos a aceitar a vida, abertos à palavra de Deus celebrada no seio de uma comunidade cristã, e trilhada pela caminhada diária que é feita em Igreja, numa comunidade neocatecumenal, acreditando sempre que é o Senhor quem leva os acontecimentos e a história. Sublinhamos a importância da «caminhada», uma vez que foi através dela que Deus colocou diante de nós todo o apostolado da Igreja: catequistas, profetas, sacerdotes, diretores espirituais, consagradas, religiosas, famílias em missão, outros matrimónios, e, em última análise, a realidade do ambiente familiar onde crescemos, para descobrir que o matrimónio não é um fim em si mesmo.

Do mesmo modo que Abraão sentiu o chamamento de Deus (Gn 12,1), nos dias de hoje um matrimónio fundado em Jesus, sintonizado pela oração e em comunhão com a Igreja, sente o chamamento a abrir-se à vida e a esperar a benignidade e providência de Deus, com a alegria da chegada de um filho, biológico ou não, o que nos introduz ao importante tema da fecundidade alargada (n.178 a 184). A adoção de crianças é um laço comum e que nos fortalece na nossa ascendência. Os pais do Hugo, Fernando e Anabela, ainda jovens adultos, sentiram um forte apelo à responsabilidade de serem pais. Levou a que em conjunto, com o beneplácito de Deus, ainda antes de terem filhos biológicos, concretizassem a adoção de um menino que ainda hoje é, e sempre será, o irmão mais velho. Eugénio e Maria Fernanda, pais da Sílvia, filha única, tocados pela sensibilidade de uma situação vivida no seio da Paróquia, sentiram a disposição para acolher um recém-nascido cuja mãe havia falecido no seu parto, em casa e em condições exíguas, deixando mais 6 filhos órfão. Assim é Deus! Não só suscita amor, como atesta a fecundidade alargada, junto dos pais que assim procedem, confirmando as palavras de sua Santidade na Encíclica “nunca se arrependerão de ter sido generosos”. Adotar é um ato de amor no qual se oferece uma família a quem não a tem!

O acolhimento de uma nova vida é dar continuidade ao processo da criação, e uma reedição do primado do Amor de Deus (n.166). Fomos percebendo isso com a chegada dos filhos e com a alegria (n.167) que este acontecimento irradiava no seio do nosso lar, contagiando vizinhos e familiares. Reconhece o Papa (n.168) que “a gravidez é um período difícil, mas também um tempo maravilhoso”.  Na perspetiva da mulher, Deus concede uma intimidade inviolável entre a nova vida desde o embrião até ao primeiro choro após o parto, e o primeiro gracejo após a imersão nas águas do batismo (n.169). A vivência da gestação de uma vida no seio materno, permite ao homem começar a descobrir a figura de referência de S. José que, mesmo nada compreendendo, prosseguiu, apoiando-se mais em Deus do que no seu cajado. O refúgio na oração, para José, será sempre uma forma a não resistir ou retaliar contra as inseguranças e dúvidas que o demónio tão astutamente disfere contra ele. De modo semelhante, deve também a mulher cuidar da alegria interior da maternidade. (n.171)

Sobre a maternidade, é de referir que o importante é esperar pelo bem precioso que nos vai chegar do alto. Não importa se será com as características, com o intelecto, ou com a aparência que queremos. Importa, sim, viver a experiência de acolher a dádiva! Um filho único e irrepetível! (n.170)

O testemunho dos nossos pais, acerca dos anciãos, tem sido um benefício uma vez que lhes reconhecem gratidão e apreço pelo extremoso cuidado que tiveram enquanto pequenos, e desejam gratuita e caridosamente retribuir no período de vida em que inspiram maiores necessidades de atenção.  Para além disso, são uma fonte de transmissão dos grandes valores aos netos, a forma como contam histórias e como no fundo dão continuidade a uma geração. Anulá-los das nossas vidas seria quebrar as raízes. (n.191 a 193)

Por último, a fecundidade do dom dos filhos leva-nos a contemplar uma nova aliança que Deus inculca na nossa vida. E assim, é possível que no seio da família cristã, se descubra a alegria de ser irmão! (n.194-195) É uma experiência belíssima, que nos revela grandes mistérios da humanidade: o que é cuidar dos outros e deixar-se cuidar; ajudar, e deixar-se ajudar. Na nossa casa, sempre que um dos filhos é corrigido, os demais sofrem com esse; similarmente, sempre que veem algum irmão com dificuldades na escola, os outros acorrem prontamente; sempre que um diz uma graça, todos a tomam como sua. Isto, a nós pais, deixa-nos com o coração pleno de alegria, e com a firme certeza do Amor de Deus na nossa existência, o qual, por conseguinte, é transportado para as suas vidas, e refletido na dos seus amigos: seja na escola, no conservatório, nos desportos, ou nas atividades extracurriculares. Por onde passam, atestam os professores, não são indiferentes às necessidades e ao sofrimento dos outros, em particular dos mais sós. Para corolário, deste tema “Amor que se torna fecundo”, ainda hoje continuamos a ouvir a pergunta: «Quando vamos ter mais um irmão?»

texto por Sílvia e Hugo Branco
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