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Roma
“Olhar para aquilo que o mundo não quer”
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O Papa Francisco espera que o exemplo de São José ajude a Igreja a recuperar a “capacidade de discernir e avaliar o que é essencial”. Na semana em que criticou “a construção de muros” e o “deserto de indiferença” perante os migrantes, o Papa pediu ao mundo para não virar a cara aos pobres, visitou Assis para ouvir o testemunho de pessoas desfavorecidas e renovou o convite a “cuidar da Criação”.

 

1. O Papa pediu aos cristãos para se deixem “iluminar” pelo exemplo e testemunho de São José. “Neste tempo marcado por uma crise global, ele pode ser apoio, conforto e orientação”, afirmou Francisco, na audiência-geral de quarta-feira, 17 de novembro, ao iniciar um novo ciclo de catequeses. Para o Papa, São José é “um mestre do essencial”, que não olha “para as coisas que o mundo louva”, mas “para aquilo que o mundo não quer”, e espera que o seu exemplo ajude a Igreja a recuperar a “capacidade de discernir e avaliar o que é essencial”, porque “é chamada a anunciar a Boa Nova a partir das periferias”.

No final do encontro público semanal, que decorreu na Sala Paulo VI, no Vaticano, Francisco associou-se à jornada de oração pelas vítimas e sobreviventes de abusos, que a Conferência Episcopal Italiana ia promover no dia seguinte. “É dever imprescindível de quem tem responsabilidades educativas na família, na paróquia, na escola e nos meios desportivos proteger e respeitar os adolescentes e as crianças que lhes são confiadas, porque nestes lugares acontecem a maioria dessas situações”, recordou.

 

2. O Papa Francisco criticou o “regresso ao passado” na gestão dos fluxos migratórios, com particular referência à “construção de muros”, numa mensagem divulgada pelo Vaticano. “A história nessas últimas décadas deu sinais de um regresso ao passado: os conflitos reacendem-se em diversas partes do mundo, nacionalismos e populismos reaparecem em diversas latitudes, a construção de muros e a devolução dos migrantes para lugares não seguros aparecem como única solução da qual os governos são capazes para gerir a mobilidade humana”, refere, num texto por ocasião do 40.º aniversário do Centro Astalli, do Serviço Jesuíta aos Refugiados em Itália. A saudação do Papa dirige-se, em particular, aos refugiados, que apresenta como “sinal” e “rosto” de esperança, apesar das dificuldades que enfrentaram. “Muitos de vocês tiveram de fugir de condições de vida comparáveis às da escravidão, onde a pessoa humana é privada da sua dignidade e tratada como um objeto”, indica o texto. Francisco assinala que, em muitos casos, a decisão de deixar a própria terra não representa uma “verdadeira libertação”, com muitos refugiados e migrantes a encontrar “um deserto de humanidade, uma indiferença que se tornou global e que mostra a aridez das relações entre as pessoas”.

 

3. O Papa sublinha que os pobres são o elo mais frágil da humanidade e pede ao mundo que não lhes vire a cara e não tenha medo de olhar de perto o seu sofrimento. “Vivemos numa história marcada por tribulações, violências, sofrimentos e injustiças, à espera duma libertação que parece nunca mais chegar. E os feridos, oprimidos e às vezes esmagados por tudo isso são sobretudo os pobres, os elos mais frágeis da cadeia. O Dia Mundial dos Pobres, que estamos a celebrar, pede-nos que não viremos a cara para o outro lado, não tenhamos medo de olhar de perto o sofrimento dos mais frágeis, para os quais aparece muito atual o Evangelho de hoje. Tudo isto por causa da pobreza a que muitas vezes se veem constrangidos, vítimas da injustiça e da desigualdade duma sociedade do descarte, que corre apressada sem os ver e, sem escrúpulos, os abandona ao seu destino”, lamentou Francisco, na homilia da Missa que celebrou na Basílica de São Pedro, no V Dia Mundial dos Pobres, a 14 de novembro.

Ainda nesta manhã, no final da recitação do Angelus, o Papa recordou que Cristo está presente de forma particular nos pobres. “Hoje celebramos o quinto Dia Mundial dos Pobres, que surgiu como fruto do Jubileu da Misericórdia. O tema deste ano são as palavras de Jesus: ‘Os pobres tê-los-ão sempre convosco’. E é verdade. A humanidade progride, desenvolve-se, mas os pobres estão sempre connosco. Neles está presente Cristo. Nos pobres está presente Cristo”, garantiu.

 

4. Francisco visitou a cidade italiana de Assis, a 12 de novembro, no início das celebrações do V Dia Mundial dos Pobres, encontrou-se com cerca de 500 pessoas desfavorecidas e em situação de grande fragilidade e ouviu e agradeceu os testemunhos que ali foram partilhados, lembrando que não são os pobres os responsáveis pela existência da pobreza. “A presença dos pobres é vista muitas vezes como um incómodo que se tolera. E há quem diga que os responsáveis pela pobreza são os pobres! Um insulto, acima de tudo”, afirmou o Papa, acrescentando que “há que fazer um exame de consciência às nossas próprias ações, à injustiça de determinadas leis e medidas económicas, e à hipocrisia dos que querem enriquecer à custa dos mais fracos”.

Para Francisco, não é possível continuar a ignorar a pobreza que alastra no mundo. “É tempo de abrir os olhos para ver o estado de desigualdade em que vivem tantas famílias. É tempo de restituir a dignidade, criando postos de trabalho. É tempo de nos escandalizarmos perante as crianças que morrem de fome, são escravizadas, vítimas de naufrágio e de toda a espécie de violência. É tempo de quebrar o círculo de indiferença”, apelou o Papa, na Basílica de Santa Maria dos Anjos, em Assis

 

5. O Papa enviou uma carta aos católicos da Escócia por ocasião da COP26, a Conferência da ONU sobre o Clima, começando por referir que não foi possível participar no evento e que sente muito por isso. Ao mesmo tempo, Francisco mostra-se feliz porque os católicos escoceses estão unidos “por um resultado frutífero deste encontro, destinado a enfrentar uma das grandes questões morais de nosso tempo: a preservação da criação de Deus, que nos foi doada como um jardim para cultivar e como uma Casa comum para a nossa família humana”. “Imploremos os dons da sabedoria e a força de Deus para aqueles que têm a tarefa de guiar a comunidade internacional, à medida que procuram enfrentar este sério desafio com decisões concretas inspiradas na responsabilidade para com as gerações presentes e futuras”, pediu.

O Papa alertou que “o tempo está a esgotar-se” e que “esta oportunidade não deve ser desperdiçada para que não tenhamos que enfrentar o julgamento de Deus pela nossa incapacidade de sermos guardiões fiéis do mundo que Ele confiou aos nossos cuidados”.

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