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Isilda Pegado
A felicidade dá muito trabalho

Vivemos numa fase de rupturas na Sociedade Portuguesa e no mundo Ocidental que muito nos questiona e faz temer ou tremer. A Família baseada na relação entre homem e mulher com carácter duradouro e com vista à geração e educação dos filhos tem tido ataques por via das Ideologias que a vão tornando cada vez mais débil.

Na verdade, quando casamos, “arde” dentro do peito um desejo de eternidade, de grandeza de valores, de desejos de realização a todos os níveis que não despendem de qualquer Lei do Diário da República.

Chamamos-lhe “o coração” mas, é mais do que isso, é o desejo de felicidade, de entrega e de construir, que durante um namoro sério se foi construindo e que naquele momento (noivado e casamento) ganha a sua dimensão de anúncio público (à família, aos amigos, à Igreja e à Sociedade) e celebração.

Com o casamento, há um outro estatuto, novos direitos e deveres, expectativas e definições… encontramos o(a) nosso(a) “cara metade” que é como quem diz – aquele que me completa, que me torna Maior e mais Eu. E aquele(a) a quem dou o que sou.

Porém, esta “chama que arde no peito”, na vida quotidiana, no dia a dia, tem dificuldades, muitas dificuldades. É um Mistério pensarmos no casamento como o encontro, a vida a dois de pessoas cujas identidades divergem, cujos quereres, culturas, gostos, são certamente diferentes. Como é possível? E, contudo, é mesmo possível!

É muito bom ver um casal que soube vencer, paulatinamente e em conjunto, as dificuldades da vida a dois, dos desaires profissionais, das questões económicas, da educação dos filhos, das doenças e… tantas outras questiúnculas que constantemente surgem.

Pergunta-se então – e porque é que outros, ao fim de 2, 4 ou 30 anos desistem, abandonam aquele projeto que lhes encheu o coração e que ao longo dos anos se poderia transformar em alegrias, vitórias, projetos, filhos e netos por criar?

São múltiplas as causas deste abandono do casamento e da família que um dia se quis construir. E não é nossa vontade enunciar essas causas. Como começámos por dizer, há um ambiente ideológico que condiciona as pessoas porque faz ver a vida através de prismas que cancelam o desejo do coração. Essa ideologia é de tal forma induzida no pensamento, na forma de viver, que as pessoas não se apercebem. É frequente contar-se a história – O Sapo introduzido numa panela de água fria que lentamente é aquecida, morre (lentamente) porque já não consegue saltar. Mas, se o atirassem para a panela de água quente, o Sapo saltaria…

E o primeiro e talvez mais grave atentado contra o casamento é apresentá-lo como um “mundo de quimeras”, onde tudo é fácil. Não é verdade. O casamento precisa de muito empenho, de trabalho, de vontade de vencer as dificuldades, de ousadia, de respeito e de entrega. A soma de todos estes (e de muitos mais) sacrifícios é largamente compensadora…

Quem desiste, porque “não dá …”, “encontrei uma pessoa …”, “não era isto que eu pensava …” e tantos outros modos de fugir ao maior desafio da vida, fracassa, em primeiro lugar, consigo próprio.

Que diríamos a um atleta que após uma vida de treinos e sacrifícios no auge da sua forma física e atlética, desistisse e entregasse as botas…??? Está doente…

No casamento, na vida de família, facilmente deixamos de questionar. Deixamos de olhar para o “desejo que temos no coração”. Por isso, temos medo de abraçar projetos, temos medo de fracassar, temos medo de lutar. Temos medo de casar… Caímos nos marasmos de uma vida sem sentido, de um passar de tempo sem objetivos, nas guerras infindáveis de partilhas ou no uso dos filhos como a última tábua de salvação. Não é fácil! Como também não é fácil ver tantos jovens que não querem compromissos – porque têm medo – e por isso se afundam eles próprios. Talvez um dia lhes tenham dito que a vida é apenas para ver passar os dias…

Não é fácil! Mas, quem ousa dar tudo por uma família que dia a dia vai construindo, onde as dificuldades são vencidas e celebradas, ou resignadas é seguramente, mais feliz.

Não é fácil, mas o que é fácil não prestaSer feliz, no meio destas ideologias, dá muito trabalho.

 

* Presidente da Federação Portuguesa pela Vida