No dia 1 de Outubro houve festa na maior cidade cristã do Iraque. A inauguração de uma simples escola veio reforçar a ideia de que os tempos de violência e de perseguição pertencem já ao passado. Por ali, ninguém quer mais voltar a ter de fugir, ninguém quer mais viver em sobressalto. A escola sonhada pela Irmã Clara é um sinal de esperança para o futuro…
O sonho tornou-se realidade. Na sexta-feira, dia 1 de Outubro, a escola secundária de Qaraqosh, a maior cidade cristã do Iraque, iniciativa das Irmãs Dominicanas, abriu as suas portas dando assim um importante sinal do empenho da própria comunidade cristã no futuro do país. Passaram sete anos desde que Qaraqosh caiu nas mãos dos terroristas do Daesh, o Estado Islâmico. Situada na Planície de Nínive, a cerca de 25 km de Mossul, Qaraqosh viveu em 2014 um dos períodos mais negros e dramáticos de toda a sua história. Perante a invasão dos homens de negro, as famílias cristãs sem ninguém que as defendesse foram forçadas a fugir nos primeiros dias do mês de Agosto, deixando tudo para trás a caminho de um exílio dentro do próprio país na região de Erbil.
Encurralados na miséria
Foram tempos duros, marcados por um profundo sentimento de impotência e de revolta. De um dia para o outro, milhares de pessoas viram-se despojadas de tudo o que tinham, vivendo um dos episódios mais horríveis da história do Iraque perante o silêncio cúmplice das autoridades, da comunidade internacional, de praticamente todo o mundo. De um dia para o outro, milhares de pessoas tiveram de improvisar as suas vidas em campos de tendas, encurralados na miséria, de mãos vazias. Ninguém consegue esquecer esses dias, essas longas semanas e meses de humilhação.
Qaraqosh seria libertada pelo exército Iraquiano apenas dois anos mais tarde. Desde então, aos poucos, as famílias foram regressando a uma cidade meio destruída, com casas e igrejas vandalizadas pelos jihadistas, com marcas de ódio em todo o lado. Reconstruir passou a ser a palavra de ordem. Mas se alguns apenas se preocuparam em reabilitar o que tinha sido destruído, para a Irmã Clara, a superiora das Dominicanas de Santa Catarina de Siena, era importante sonhar com algo maior, com um projecto que ajudasse a comunidade a enfrentar os desafios do futuro. E foi assim que nasceu a ideia da construção de uma nova escola secundária.
Não desistir do futuro
As irmãs estão intimamente ligadas à comunidade cristã local. Presentes na região há mais de quatro décadas, foram das primeiras pessoas a regressar após a libertação da cidade, o que incentivou muitas famílias a fazerem-se também à estrada, apesar de ninguém ignorar o estado de desolação que iriam encontrar em Qaraqosh. Mas era preciso reunir forças, era preciso não desistir do futuro. Nem que fosse pelos mais novos, pelos netos, pelos que ainda irão nascer. No meio da azáfama para limpar a cidade de entulho, das ruínas das casas destruídas pelo ódio, a Irmã Clara foi sonhando uma escola que fosse mais do que um edifício, que fosse só por si um sinal de esperança para todos. Aos poucos, a escola foi-se fazendo. Em 2018, a Irmã pediu ajuda à Fundação AIS e à Chancelaria da República Federal da Áustria. Era preciso avançar.
Reconciliação e cura
“O nosso objectivo era oferecer aos jovens um lugar de reconciliação e cura depois de terem sido deslocados pelo Daesh e de terem vivido tantos anos como refugiados”, explicou a madre superiora à jornalista Maria Lozano, da Fundação AIS. Para as famílias de Qaraqosh, a notícia de que iria haver uma nova escola para os seus filhos foi um alívio. O sistema educativo iraquiano é um dos principais obstáculos a todos os que querem ficar no país. A fraca qualidade do ensino, a escassez de professores, as baixas remunerações e a falta de material escolar são ingredientes que ajudam a explicar a crise no sector educativo. A nova escola secundária de Qaraqosh tem 625 alunos, dos 13 aos 18 anos. Foi para eles que as irmãs tanto trabalharam nos últimos meses. “Como Irmãs Dominicanas, estamos convencidos de que a educação ilumina a mente e abre os corações à verdade. Foi por isso que iniciámos o projecto para uma nova escola secundária – numa zona onde os jovens precisam urgentemente de um ambiente educativo saudável", explica a Irmã Clara.
Permanecer no país
Três andares, uma capela, salas de aulas para acolher todos os alunos e um plano para a construção ainda de um campo desportivo que será destinado a toda a comunidade. A importância da existência da escola é muito significativa a nível local. Só para a construção do edifício estiveram envolvidos cerca de duas centenas de pessoas, desde operários a engenheiros. Agora, como unidade de ensino, vai dar emprego também a professores, educadoras e funcionários administrativos. Como escola católica, será igualmente um centro de vida da comunidade que ali vai desenvolver diversas actividades religiosas nomeadamente aulas de catequese. “Estamos profundamente gratas pela vossa solidariedade”, diz a Irmã Clara dirigindo-se aos benfeitores da Fundação AIS em todo o mundo. “Agradecemos muito o vosso apoio moral e financeiro, que nos permite permanecer no nosso país”, acrescentou. No dia 1 de Outubro, houve festa em Qaraqosh. A nova escola é um sinal de que o futuro dos Cristãos continua a passar por ali. Esse era o sonho da Irmã Clara. Um sonho agora concretizado, em nome de todos…
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