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Bispo de Quelimane deixa alerta após passagem do ciclone Freddy
“Aqui há gente a morrer”
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Duas semanas depois da passagem do ciclone Freddy por Moçambique, é imenso ainda o rasto de destruição. Há dezenas de mortos, 50 mil deslocados e mais de 350 mil pessoas afectadas. O Bispo de Quelimane, uma das zonas mais atingidas pelas chuvas e ventos fortes, descreve, à Fundação AIS, um cenário dramático com pessoas a morrer de fome e também de cólera. E pede ajuda. Todas as igrejas da diocese ficaram parcialmente destruídas. Estão todas sem telhados…

 

“O povo neste momento não tem o que comer”, diz, ao telefone, desde Moçambique, D. Hilário Massinga. Em entrevista à Fundação AIS, o Bispo de Quelimane descreve um cenário dramático após a passagem do ciclone Freddy pelo país. Fome e cólera são agora as maiores ameaças para uma população que ficou praticamente sem nada face à violência das chuvas e dos ventos. “As pessoas estão a passar fome. Estão mesmo a passar fome! E temos um problema adicional que é a cólera. Aqui há gente a morrer”, diz o prelado, referindo que o facto de quase não haver saneamento básico está a agravar a situação. O número de mortos tem vindo a crescer com o passar das horas, dos dias. Neste momento, embora a contabilidade seja necessariamente provisória, estão registados 161 mortos e pelo menos 50 mil deslocados num universo de mais de 350 mil afectados em Moçambique.

 

Evitar a propagação da malária e da cólera

Estes números são gigantescos face à falta de recursos disponíveis para acudir a todas as situações mais urgentes. “Naturalmente que a Caritas saiu ao encontro [das pessoas] com os poucos quilos [de comida] que tinha conseguido angariar, mas que não é nada para a muita gente que [vive na] nossa diocese”, explica o Bispo, acrescentando que a Igreja Católica tem vindo a pedir ajuda, mas que a situação é mesmo muito difícil. A prioridade é a alimentação e a distribuição de água aos que perderam tudo o que tinham, mas a distribuição de redes mosquiteiras é também essencial para se evitar, ao máximo, a propagação da malária e da cólera. “Praticamente todas as casas perderam o tecto. Mesmo que se tente repor alguma chapa que esteja por ali, já não é a mesma coisa… Esperamos também conseguir um apoio para podermos ter redes mosquiteiras. Porque, mesmo sem tecto, quando se tem a rede mosquiteira ao menos atrasa o efeito da malária”, diz o responsável pela Diocese de Quelimane, a mais atingida pela passagem por Moçambique do ciclone Freddy.

 

Todas as igrejas sem telhado

O vento destruiu não só a esmagadora maioria das chapas de zinco das casas em toda a região, mas também das igrejas. O cenário não se afigura fácil, tanto mais que esta é a época das chuvas… “Todas as nossas igrejas, todas as nossas casas, residências, juntamente com as do povo, estão sem tecto neste momento. Estamos muito atrapalhados com isso”, reconhece D. Hilário, adiantando que os responsáveis da Diocese têm vindo a pedir ajuda, pois a situação é muito difícil e há paróquias onde ainda não foi possível chegar “pois não há condições de circulação”. Face à dimensão da tragédia, as populações sentem falta de apoio e D. Hilário dá conta também disso. “Estamos a lutar por nossa conta, com aquilo que podemos” explica, alertando para o facto da cólera ser agora a ameaça maior. “Em alguns bairros as mortes são diárias e isso preocupa-nos. Morrem de cólera e ninguém diz nada…” Também D. Diamantino Antunes, Bispo de Tete, outra das dioceses afectadas, falou com a Fundação AIS destacando o facto de estes fenómenos extremos, que ocorriam com seis ou sete anos de intervalo, serem agora cada vez mais frequentes dadas as mudanças climáticas que se estão a verificar um pouco por todo o planeta, e de acentuarem a já profunda pobreza em que se encontra o país. “Uma tempestade tropical como esta e sobretudo as enxurradas, coloca o país de rastos”, explicou D. Diamantino. Além de Moçambique, o ciclone Freddy atingiu também Madagáscar e o Maláui, provocando, no conjunto, até agora, mais de mil mortos.

 

O drama do terrorismo

Ainda em Janeiro do ano passado, a tempestade tropical Ana atingiu o centro e norte de Moçambique causando cerca de duas dezenas de mortos e afectando milhares de pessoas. A tudo isto, soma-se a tragédia do terrorismo que tem afectado essencialmente o norte do Moçambique, onde grupos armados têm lançado, desde Outubro de 2017, sistemáticos ataques que já provocaram cerca de 4 mil mortos e quase 1 milhão de deslocados internos. Toda esta situação tornou Moçambique num país prioritário para a Fundação AIS no continente africano, especialmente no que diz respeito ao apoio às vítimas do terrorismo. A ajuda da Fundação AIS tem-se materializado nomeadamente em projectos de assistência pastoral e apoio psicossocial, mas também no fornecimento de materiais para a construção de dezenas de casas, centros comunitários e ainda a aquisição de veículos para os missionários que trabalham junto dos centros de reassentamento que abrigam as famílias fugidas da guerra.

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