Por uma Igreja sinodal |
A Igreja como comunhão
A sinodalidade em Bento XVI
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O Papa Bento XVI, durante o seu pontificado, convocou cinco assembleias sinodais – três ordinárias e duas especiais – valorizando assim este precioso instrumento de auxílio ao múnus do Romano Pontífice como Pastor da Igreja Universal.

Por ocasião destas assembleias, o Santo Padre apresentou alguns princípios fundamentais para a vivência da sinodalidade na Igreja, os quais encontram as suas raízes no Concílio Vaticano II e na reflexão teológica posterior, na qual o então Cardeal Ratzinger participou de forma activa e frutuosa. Lembramos de forma particular o Sínodo dos Bispos de 1985, que, no ensejo de valorizar e promover a aplicação do Concílio Vaticano II, nos vinte anos da sua conclusão, recordou que a Igreja é Mistério de Comunhão dos homens com Deus e dos homens entre si, realizada na pessoa de Jesus Cristo, o Verbo Encarnado. Relembramos igualmente a Carta sobre alguns aspectos da Igreja entendida como comunhão (1992), assinada pelo então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger, e aprovada pelo Papa João Paulo II.

Com este pano de fundo teológico, e na fidelidade à eclesiologia conciliar, o Papa Bento XVI recordou, ao longo dos Sínodos por si convocados, dois princípios fundamentais para a vida da Igreja: a primazia de Deus na acção eclesial e a universalidade da Igreja como expressão de comunhão. Estes princípios estão de tal modo unidos entre si que devem ser sempre considerados em conjunto pois um é condição do outro. Na verdade, a comunhão eclesial – expressada pela universalidade – tem a sua fonte na comunhão com Deus, por meio da Palavra e dos Sacramentos, em especial da Santíssima Eucaristia. Aliás, vão ser precisamente estes os assuntos tratados em dois dos Sínodos ordinários convocados por Bento XVI: A Eucaristia: fonte e ápice da vida e da missão da Igreja (2005); A Palavra de Deus na vida e missão da Igreja (2008). O terceiro sínodo ordinário convocado por Bento XVI (2012) versou sobre a consequência de viver iluminado pela Palavra de Deus e alimentado pela Eucaristia: ser testemunha da fé cristã pela missão evangelizadora, missão própria de todos os baptizados, como constantemente relembra o Papa Francisco.

Sobre a primazia de Deus na missão eclesial, Bento XVI recordava que «só o preceder de Deus torna possível o nosso caminhar, o nosso cooperar, que é sempre um cooperar, não uma nossa decisão. Por isso é sempre importante saber que a primeira palavra, a iniciativa verdadeira, a actividade verdadeira vem de Deus e só inserindo-nos nesta iniciativa divina, só implorando esta iniciativa divina, nos podemos tornar também – com Ele e n’Ele – evangelizadores»[1].

O acolhimento da iniciativa divina permitirá à Igreja ser sinal e instrumento do único e universal desígnio salvífico de Deus (cf. LG 1), cumprindo assim a sua missão de ser «comunhão e testemunho». E de outro modo não podia ser, dado que a comunhão não é realizada com as nossas próprias forças, mas é, antes de mais, um dom. Por outro lado, o facto de a comunhão ser um dom de Deus «interpela a nossa liberdade e espera a nossa resposta: a comunhão exige sempre a nossa conversão, como dádiva que deve ser cada vez mais recebida e realizada»[2].

Esta conversão leva-nos necessariamente à escuta recíproca, tão necessária quanto enriquecedora, dado que «ao escutar os outros, escutamos também melhor o próprio Senhor»[3]. Ao dialogar e escutar «aprendemos a realidade mais profunda, a obediência à Palavra de Deus, a adequação do nosso pensamento e da nossa vontade ao pensamento e à vontade de Deus. Uma obediência que não vai contra a liberdade, antes desenvolve todas as potencialidades da nossa liberdade»[4]. É por isso que só vivemos realmente em Sínodo quando experimentamos a «grande alegria de sermos ouvintes da Palavra de Deus, de sermos confrontados com este dom da sua Palavra»[5].

Esta escuta recíproca, característica da dinâmica sinodal, conforta e edifica a Igreja e fortalece os seus laços de comunhão universal. Na verdade, ao estarem presentes bispos de todo o mundo, as assembleias sinodais são uma ocasião privilegiada de ajuda mútua e partilha dos «sofrimentos, ameaças, perigos e alegrias, e experiências da presença do Senhor, inclusive nas situações difíceis», permitindo reconhecer «como hoje o Senhor está presente, é poderoso e actuante onde não se espera, também através do nosso trabalho e das nossas reflexões»[6].

 

Todos estes contributos de Bento XVI serão certamente de grande importância para o Sínodo que estamos agora a viver e que ostenta no seu lema – comunhão, participação e missão – um dos pontos mais destacados da reflexão eclesiológica de Bento XVI: a Igreja como Comunhão.


 



[1] Bento XVI, Meditação durante a oração da Hora Tércia na inauguração dos trabalhos do Sínodo dos Bispos (8.10.2012).

[2] Bento XVI, Homilia na Santa Missa na abertura da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio (10.10.2010).

[3] Bento XVI, Saudação no final do almoço com os participantes do Sínodo dos Bispos (25.10.2008).

[4] Bento XVI, Saudação no final do almoço com os participantes do Sínodo dos Bispos (25.10.2008).

[5] Bento XVI, Alocução por ocasião da oração das Primeiras Vésperas do XXIX Domingo "per annum", na qual participou o Patriarca Ecuménico Bartolomeu I (18.10.2008).

[6] Bento XVI, Saudação aos Padres Sinodais por ocasião da última congregação da XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (27.10.2012).

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